As sondagens divulgadas nos últimos dias retratam uma evidência do Portugal democrático, que é o facto de o presidente em exercício recolher a maioria das intenções de voto. Tanto assim tem sido, que por norma os desafiantes ao segundo mandato ou são soluções de recurso para os partidos, ou são pré-candidaturas para confirmação daí a cinco anos.
Com a excepção de 1980, em que a direita revanchista apresentou a forte candidatura do general Soares Carneiro, (o que levou a uma união PS/PCP pela reeleição de Eanes), em 91 foram Basílio Horta (CDS) e Carlos Carvalhas (PCP) a contestarem sem sucesso a reeleição de Soares, e em 2001 Ferreira do Amaral (PSD), António Abreu (PCP) e Fernando Rosas (BE), a manifestarem oposição ao bis de Jorge Sampaio, que reuniu o pleno da esquerda na primeira eleição (ver outros candidatos aqui).
A reeleição do Presidente da República é, pois, uma não notícia, sendo então a putativa notícia a apresentação de um candidato forte, que colocasse em questão o plebiscito. Com um governo PS, poder-se-ia pensar que tal aconteceria em 2011, mas as circunstâncias particulares rapidamente afastaram essa hipótese. Mergulhado nas suas intrínsecas teias, Sócrates quis tudo menos abrir uma nova frente de batalha, e por isso aceitou, sem convicção, Alegre como o representante da área socialista.
Antes de dar tempo ao PS, o Bloco de Esquerda jogou a sua cartada, capturando Alegre como o candidato da esquerda contra o neo-liberalismo. E assim Alegre se viu triste (ignóbil trocadilho), perdendo a força da voz livre que teve na primeira candidatura. Não esquecendo que, nessa circunstância, a força lhe foi dada pelo seu partido, ao recusar-lhe o apoio, optando pelo remake (em farsa) de Soares.
No actual cenário, e podendo ter optado por uma solução mais forte, o PCP avançou com Francisco Lopes, um dirigente desconhecido do eleitorado, e com uma campanha, até à data, conduzida para o voto militante.
Lembrando que BE e PCP nunca equacionaram uma candidatura comum, dificilmente ganhadora, mas que expressasse nas urnas uma vontade de ruptura com o centrão, que governa o país há mais de três décadas.
Fernando Nobre, o possível outsider, não conseguiu ainda qualquer protagonismo, percorrendo o país há um par de meses sem reflexo no seu resultado nas sondagens ou na arena mediática.
Para um eleitor de esquerda (e permitam-me recordar o meu apoio crítico a Nobre), estas presidenciais arriscam-se a ser um doloroso manual do que não se deve fazer, quando se tem como objectivo a vitória, ou, no mínimo, uma campanha mobilizadora e recrutadora de forças para a luta contra os sucessivos PEC’s.
Concluindo daqui que, à esquerda, os protagonistas envolvidos procuraram mais o protagonismo das suas particulares bandeiras do que uma verdadeira alternativa ao presidente em exercício (e ex-longo-primeiro-ministro), que é um dos principais responsáveis pelo estado da nação.
Esperemos que a campanha eleitoral traga debate positivo, que leve os cidadãos a uma reflexão sobre quem de facto querem na presidência da república. Um situacionista ou uma mudança de paradigma?
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